A liderança da APAF, Conselho de arbitragem da FPF e a esmagadora maioria dos árbitros de primeira categoria estiveram reunidos na noite de quarta-feira em Fatíma para discutirem o momento da arbitragem. Nessa madrugada a APAF publicou um comunicado na sua página de Facebook que urge analisar com todo o cuidado.
O comunicado
Greve? Nunca sube que a APAF fazia greve
Reparem que a APAF não utiliza a palavra "greve" uma única vez em todo o seu comunicado. Falam apenas numa "ausência dos árbitros nas competições profissionais", caso não se verifiquem uma série de pressupostos. E pergunta o caro leitor: Por que será que nunca falam em "greve"? Eu respondo de forma muito clara. Não falam em greve porque são uns cobardes. O que a APAF pretende fazer é utilizar um expediente relacionado com pedidos de dispensa por parte de todos os árbitros da primeira categoria (C1). Os regulamentos indicam que este tipo de pedido tem de ser feito com um prazo de antecedência de 20 dias e serve para questões extraordinárias.
No dia seguinte à reunião, todos os árbitros de primeira categoria entregaram os pedidos de dispensa ao Conselho de arbitragem. É importante dizer que estes pedidos de dispensa não são de aceitação obrigatória por parte do Conselho de Arbitragem. Ora, perante o que estamos a ver, o Conselho de arbitragem da FPF já terá garantido a aceitação destes pedidos. O que é um verdadeiro escândalo.
Segundo a imprensa, a fundamentação para estes pedidos de dispensa versa sobre os árbitros não sentirem "condições psicológicas para apitarem os jogos. Provavelmente, tiveram uma consulta conjunta com o Professor Nhaga, que os informou com 20 dias de antecedência sobre uma falta de condições psicológicas que irão sentir. Vão ter condições psicológicas para apitarem os jogos desta jornada, mas daqui a 20 dias já não vão ter. Se isto já é surreal, mais surreal é o facto de estar tudo apalavrado com o Conselho de arbitragem para que estes pedidos sejam aceites. Num país sério o conselho de arbitragem teria de ser destituído imediatamente ao aceitar pedidos de dispensa com base nesta patetice.
É vergonhosa a forma como este grupo organizado de apitadores, levantadores de bandeiras e de placas com o tempo de desconto, se esconde no regulamento para não perderem regalias.
E este é o melhor exemplo do que é esta classe, que é transversal ao actual conselho de arbitragem. José Fontelas Gomes saiu da APAF mas a APAF ainda não saiu dele. Este senhor tem de se lembrar que representa a FPF e os interesses dos seus associados e não o interesse dos árbitros de futebol. Para isso é que existe a APAF.
A ameaça e os pressupostos
A APAF é transparente na ameaça que faz. Ou fazem o que nós queremos ou então vamos para greve, perdão, vamos para "ausência dos árbitros nas competições profissionais".
Vejamos os pressupostos previstos no comunicado:
Os senhores do apito querem uma "total ausência de insinuações que ponham em causa a honra e o bom nome dos árbitros, por parte de por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais".
Aqui não posso deixar escapar a frase sublinhada anteriormente. O que é que os árbitros querem dizer com isto? Quando de fala em meios de comunicação próprios estaremos a falar das televisões, jornais, sites e redes sociais oficiais dos clubes. Parece-me claro que a APAF vai mais longe e considera que os clubes promovem insinuações nas redes sociais, através de plataformas não oficiais. Ora, era importante saber quem são essas páginas ou sites, uma vez que foram incluídas neste comunicado. Provavelmente estarão a falar do Baluarte Dragão ou do Hugo Gil e Benfica.
Insinuações explicadas ao pormenor
"Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, direta ou indiretamente, a qualquer ato não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma direta ou indireta, expressões como «polvo», «padre», «diácono» ou «apito dourado», entre outras infelizmente utilizadas por diversos clubes já esta época;"
Aqui destaco particularmente o incomodo que causa aos senhores do apito a utilização de expressões como "padre ou diácono". Felizmente não incluíram na lista de alcunhas censuradas a minha alcunha favorita - "padrecos".
É muito curioso que os padrecos tenham escolhido a palavra "polvo" como primeira palavra proibida no "index Apitadeirum Prohibitorum". Que eu saiba, ninguém neste país associa esta palavra à arbitragem, mas sim ao Benfica. A utilização do cefalópode serve para exprimir a teia de influências usada pelo Benfica e que tem vindo a ser desmontada através da divulgação dos emails. Como temos visto, este polvo tem tentáculos muito variados que passam pela arbitragem, justiça, disciplina, imprensa, cartilhas ou crime organizado. É sintomático que se sintam afectados por isto.
Reuniões com o Presidente da Liga e alteração regulamentar
Este grupo organizados de padrecos querem levar 5 representantes a uma reunião com o Presidente da Liga "com o objetivo de definir e aprovar um corpo regulamentar que reforce a punição de quem não cumpre as normas éticas e disciplinares a que estão obrigados todos os agentes "e exigem que este regulamento seja submetido a Assembleia Geral da Liga até 31 de dezembro de 2017".
Primeiro que tudo, fico muito curioso para saber que são os 5 padrecos a estarem presentes na reunião com o Presidente da Liga. Sugiro o mota dos talhos, o mostovoi de Viatodos, o esquiça de Fafe, o padreco da Capela e o VARíssimo.
Depois, acho fantástico o nível da exigência pelos padrecos que querem um alteração regulamentar e querem que a mesma seja aprovada até ao final do ano. Uma coisa assim às três pancadas é sempre interessante.
Hipócritas
Se os padrecos têm um mestrado em cobardia, em hipocrisia são doutorados. Nunca ninguém se perguntou: Por que será que estes senhores têm uma conotação tão negativa em Portugal? Não será pelo histórico enorme de corrupção, tráfico de influências e afins que graçam no sector do apito há dezenas de anos? Quem é que toma café com leite? Quem é que andou 3 anos a "mamar" vouchers sem nunca terem escrito uma única linha no relatório de jogo? Quem é que envia emails para dirigentes do Benfica para lhes darem um jeitinho nas classificações? Etc, etc, etc.
Perante este histórico, como é que querem que os adeptos, dirigentes, treinadores e jogadores não duvidem da vossa idoneidade? Se são assim tão mal tratados por que será que não abandonam a actividade?
Acho inacreditável e vergonhoso o nível de censura que estes padrecos pretendem implementar através de questões regulamentares. Olhem para o que acontece com os jogadores, treinadores e dirigentes. Vejam o que tem sido dito sobre Bruno de Carvalho por jornalistas que deveriam ser isentos. O Presidente do Sporting também devia fazer greve? E os treinadores e jogadores criticados semanalmente e insultados de tudo quando a coisa não corre bem, também devem fazer greve?
Ainda há dias li a resposta de um jogador confrontado com as criticas dos adeptos. Segundo esse jogador a solução passava por estar ainda mais concentrado, treinar mais e melhor para conseguir conquistar a confiança dos adeptos do seu clube. Seguindo a linha de raciocínio dos árbitros este jogador deveria era apresentar um pedido de dispensa por não se sentir com condições psicológicas para jogar.
Se os árbitros não têm condições psicológicas para lidarem com as críticas, que se dediquem à pesca. Dizem que é mais calminho. Se os comentários de treinadores, dirigentes, jogadores ou adeptos são ofensivos da sua honra existem instituições para resolver essas questões. Que processem essas pessoas, clubes ou entidades. Agora, não venham cá com sermões encomendados para cima dos adeptos.
Ganhem juízo e dediquem-se à pesca!
Agradecer a todos pelo apoio. Se ainda não seguem o Mister do Café nas redes sociais, podem começar já.